Já comentei em outras colunas sobre o fenômeno dos notebooks extremamente baratos que assolam as lojas de varejo nos EUA. Se você for a uma Walmart certamente encontrará algumas boas ofertas abaixo de 650 dólares, o que é ótimo para um notebook completo e funcional.
Através de um amigo comprei um desses modelos para minha esposa, um Acer Aspire 3003LCi, que vem de fábrica com Windows XP Home pré instalado, Sempron 3000+ (1800 MHz), WiFi, chipset SiS e outras coisinhas mais. Aqui no Brasil dá para encontrar esse modelo na faixa de 3 mil reais.
O primeiro contato, antes de ligar o produto, impressionou positivamente. O bicho é bonito, parece robusto, é bem leve e bem acabado. Aos poucos a boa impressão vai sendo deixada de lado em função das “características” desse modelo, como por exemplo a memória de apenas 256 MB somada a um HD extremamente lento de 4200 rpm. Tudo bem, nós sabíamos que um produto barato não poderia ter uma performance ótima, mas esperar quase 10 minutos para o boot completo (*) é dose!
(*) o tempo de boot quando o recebemos era menor do que isso, mas com a adição dos programas, antivírus e outras anti-pragas obrigatórias, está levando quase 10 minutos para a luz do HD apagar, deixando o notebook pronto para operar confortavelmente.
Outro problema irritante é a duração da bateria: se você acender uma vela e rezar muito, dá pra operar por cerca de uma hora e trinta minutos, mas na média podemos considerar uma hora só e olhe lá. O display também não é grande coisa, a Acer desenvolveu junto aos seus fornecedores monitores de baixíssimo custo para o mercado de desktops ao custo de fornecer um ângulo de visão muito restrito e uma baixa definição de cores, e esse mesmo tipo de painel é utilizado no Acer 3003LCi (há uma versão WLCi, com display widescreen que usa uma tecnologia diferente). Na prática, a imagem não é boa nem uniforme. Mesmo de frente para o display percebem-se anomalias nas bordas da tela, especialmente as inferiores que ficam mais perto do backlight (esse display usa um único backlight embaixo, que por reflexão ilumina o restante da tela).
Mas o que importa mesmo é a satisfação do usuário e nesse caso posso afirmar que minha esposa está adorando. Ela leva o aparelho para o escritório, onde opera predominantemente ligado a fonte AC, e volta com ele pra casa para a noite responder e-mails e terminar tarefas que ficaram pendentes. Parte do prazer dessa atividade está no fato dela fazer isso deitada na cama, com o notebook no colo, utilizando nossa rede sem fio doméstica. A limitação da bateria acaba não sendo um problema porque ela consegue resolver quase tudo dentro desse intervalo de uma hora que ele funciona só com as baterias.
Meu notebook é um Asus M6Ne, equipado com um Centrino (Pentium M) 1.6 GHz e que ao longo da sua vida útil recebeu um upgrade de memória (1 GB) e de disco (100GB Seagate Momentus 5400rpm com 8MB de cache). Apesar dos seus 10 meses de uso ele continua como novo, sem um único arranhão ou problema técnico. Seu custo atual estimado é literalmente o dobro do Acer 3003LCi, mas sua performance me surpreende até hoje. Será que é válida uma comparação lado a lado?
Foi exatamente isso que aconteceu um dia desses, quando nós dois chegamos em casa depois de um evento e fomos colocar os e-mails em dia, deitados na cama, assistindo o noticiário na TV. Chegamos ao quarto simultaneamente com nossos respectivos notebooks e os ligamos ao mesmo tempo. Eu já tinha respondido alguns e-mails quando a Claudia finalmente pode abrir seu Outlook, por causa da demora no boot, e antes disso ela já havia comentado que mesmo olhando de lado o display do Asus M6Ne era mais nítido e mais agradável do que o Acer dela visto de frente. Aliás, eu não conseguia enxergar nada na tela dela apesar de estar ao seu lado. O reduzido ângulo de visão é o responsável por isso.
Como havíamos passado várias horas fora do escritório, o acumulo de e-mails era grande e a bateria dela acabou muito antes dela responder a metade deles. Foi preciso buscar o carregador e encontrar no quarto uma tomada de 3 pinos que pudesse ser utilizada. No meu Asus ainda havia mais de 3 horas de bateria disponível quando a dela acabou, confesso que abri um sorriso irônico...
Um pouco antes disso nós trocamos rapidamente de notebook só para ter uma idéia de como era o equipamento do outro. Notei que o dela é realmente mais leve, mas também notei que aquece demasiadamente na parte de baixo a ponto de não conseguir apoiá-lo na barriga, deu a impressão que o culpado nem é o processador, mas sim o chipset (com vídeo onboard) e o dispositivo WiFi (que é um módulo extra, conectado por uma porta PCMCIA interna e exclusiva pra ele). O tempo de resposta a qualquer comando era muito pior do que o Asus e a luz do HD acesa direto indicava que o uso intenso do SWAP em disco por falta de memória era o principal responsável por esse comportamento. Trocamos novamente de notebook, e senti nela uma certa decepção com seu aparelho. Dessa vez, não sorri...
Cerca de 40 minutos depois já havíamos terminado nossos afazeres quando nosso amigo e colunista CAT (Carlos Alberto Teixeira) me ligou via Skype lá de Montevidéu (Uruguai). Apesar do meu envolvimento com a tecnologia, é impressionante estar deitado na minha cama com um notebook no colo, ligado à internet por uma rede sem fio e falar com um amigo no Uruguai com absoluta nitidez, e de graça!
Foi um papo a três, porque o microfone do Asus M6Ne captura muito bem os sinais e deu para a Claudia participar da conversa estando ao meu lado. Despedimos-nos do CAT e fui mostrar a ela alguns vídeos que eu tinha separado para uma futura apresentação. Os vídeos estavam em um pequeno servidor (Celeron D) no outro quarto e por meio de streaming (Nero Media Home em conjunto com o Nero Showtime) eram propagados até meu notebook pela rede sem fio. A imagem é perfeita e a transmissão não apresenta nenhum engasgo, e ela ao meu lado conseguiu ver tudo sem problema algum, graças ao bom display do Asus.
Depois de umas 3 horas deitados, desliguei meu notebook enquanto Claudia ainda verificava algumas informações com o dela, visivelmente incomodada com a temperatura da parte inferior do Acer e com o cabo da fonte que passava por cima da cama.
Conclusão: Não dá pra comparar um modelo com o outro. O conforto obtido com um modelo de 6 mil reais, com bateria de longa duração, muita memória e um HD de boa performance é muito compensador quando se pensa em mobilidade, função primordial de um notebook. Dá pra trocar a bateria do Acer por uma maior, também dá pra fazer um upgrade de memória e de disco, mas nesse caso toda a vantagem do preço baixo vai embora. Talvez valesse a pena ter optado por um modelo intermediário um pouco melhor.
A tecnologia Centrino é muito superior à utilizada pelo Sempron/Sis no Acer, e é evidente pelo calor gerado que o consumo do Acer é muito maior do que o do Asus com seu Pentium M com 2 MB de cache (contra medíocres 128 KB do Sempron). Dependendo do uso a que se destina, certos recursos encontrados em modelos mais caros são fundamentais.
O objetivo aqui não foi comprar tecnologias ou marcas, e sim a opção por um modelo muito barato ou um bem mais caro. O Acer é muito bom pelo preço se você pretende trabalhar com ele predominantemente ligado à fonte AC, e substitui muito bem um PC de nível médio para a maioria dos usos. A Claudia tinha um PC (Pentum 4 3.2 GHz) e apesar da diferença de performance ela hoje prefere o notebook pela versatilidade, tanto é que nós já passamos o PC para um amigo, nem tem como voltar atrás agora.
Acho que a experiência com esses notebooks de baixíssimo custo, como o Acer e outros tantos (a DELL tem um modelo similar a 2.500 reais aqui no Brasil) muito válida para quem precisa de mobilidade e não quer (ou não pode) gastar muito, mas para quem é um hard user ou precisa de mais performance e/ou mais recursos, é fundamental escolher um modelo mais avançado e necessariamente mais caro.
0 comentários:
Postar um comentário